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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Conto: Ruído branco e silêncio

Trancrição nº 1748577

Editado para nível de segurança 03 e superiores.

[início]

Homem 01: Como havia dito, isto é apenas formalidade. Apenas algumas perguntas. Coisa de rotina. Creio que me compreende, não é senhor [editado]?

Homem 02: É. Sei.

Homem 01: Pode me contar os fatos que levaram o senhor bem como os senhores [editado], [editado], [editado] à fronteira [editado]?

Homem 02: Claro. [pausa]. Não tem nada melhor pra se fazer aqui nesta cela.

Homem 01: Ótimo. Comecemos então pelo motivo que o levou e a seus associados a deixarem seus postos em [editado] e cruzar a fronteira do [editado]?

Homem 02: Recebemos ordens. E as executamos na medida do possível.

Homem 01: De quem?

Homem 02: De [editado]. Veio pelos protocolos habituais. Confirmamos com [editado] e com o departamento de [editado].

Homem 01: Essa checagem é procedimento de rotina? Quer dizer toda ordem recebida tem de ser confirmada com órgãos externos?

Homem 02: Sim. Não somos uma entidade oficial. Temos acesso a tecnologia, encriptação, satélites. Mas isso não é suficiente. Há falhas. Já houve problemas por falhas de comunicação. Isto é do seu conhecimento, não é senhor [editado]?

Homem 01: Claro. Claro. Senhor [editado]. Os fiascos de [editado] e [editado]. [pausa] Deus, perdi conhecidos nestes lugares. A coisa foi feia.

Homem 02: É verdade.

Homem 01: Prossiga. Qual era a natureza de suas ordens?

Homem 02: Ir para uma vila em [editado]. Descer o rio [editado], 20 quilômetros de [editado] e remover o senhor [editado].

Homem 01: Não era uma ordem de [editado]?

Homem 02: Não. Nossa ordem era para remover [editado] intacto da vila e o escoltar até a fronteira. Zero residual. Como fantasmas e só.

Homem 01: Entendo. [pausa]. Pode descrever o método de inserção?

Homem 02: Transporte militar terrestre, de [editado] até [editado]. Aguardamos quase 60 horas antes de o tempo permitir o vôo de helicóptero. Cruzamos a fronteira até [editado]. Seguimos mais 05 quilômetros a pé até o rio. o restante do trajeto foi feito de barco.

Homem 01: Encontraram alguma patrulha ao transpor a fronteira? Exército regular? Insurgentes? Foram captados pelo radar ou outro meio?

Homem 02: Não. Não cruzamos com ninguém nem fomos detectados ao transpor a fronteira.

Homem 01: Você e seus associados estavam cientes que a região não é segura para ninguém da [editado]? Os informes do departamento de [editado] recomendavam explicitamente a não atuação naquela região de qualquer de nossas forças.

Homem 02: Sim.

Homem 01: Então por que invadiram território [editado], mesmo com altas recomendações em contrário?

Homem 02: Você tá de brincadeira? Somo treinados e pagos pra fazer o que nos ordenam. Deram-nos uma ordem e fizemos o possível para cumpri-la. Aliás, engomadinho, você passou pelo treinamento básico? Não ofenda minha inteligência!

Homem 01: Desculpe-me senhor [editado]. Mais uma vez insisto que tais perguntas são apenas formalidades. E respondendo a sua pergunta sim. Eu passei pelo treinamento básico.

Homem 02: Onde?

Homem 01: Em [editado]. Frio demais no inverno. Quente demais no verão. A comida era um lixo.

Homem 02: Sei. Ouvi dizer.

Homem 01: E quando chegaram à vila? O que aconteceu lá? Houve confronto? Foram abordados por alguma força local?

Homem 02: Não. Tudo calmo. Os nativos estavam assustados. Havia combates a nordeste, em [editado]. Exército regular e insurgentes.

Homem 01: O Senhor... Como é mesmo o nome dele?

Homem 02: [editado]

Homem 01: Obrigado. Minha pronúncia do dialeto [editado] é péssima. Mas voltando, o Senhor [editado] resistiu a ser escoltado até a fronteira?

Homem 02: Não. Ele estava aliviado de sumir daquele buraco. Quando dissemos porquê estávamos ali, ele rapidinho pegou as tralhas pra ir embora.

Homem 01: Entendo.

[pausa]

Homem 01: E no retorno? Foram detectados de alguma forma? Encontraram alguma força hostil?

Homem 02: Não. Havia transmissões de rádio do exército regular operando na região, mas distante do nosso caminho. Estavam ocupados com insurgentes no norte.

Homem 01: Na fronteira. No posto de checagem. O quê aconteceu?

Homem 02: Era para esperarmos no ponto de extração designado. 02 quilômetros ao sul do posto de checagem. Mas não chegamos ao posto.

Homem 01: Por quê?

Homem 02: O posto de checagem era uma emboscada. Estava silencioso demais. Íamos contornar o posto quando fomos atacados.

Homem 01: O que aconteceu ao senhor [editado]?

Homem 02: Um atirador meteu uma bala na cabeça dele quando teve oportunidade. Coisa de profissional.

Homem 01: E seus associados? O que aconteceu a eles?

Homem 02: [editado] foi atingido pelo atirador do senhor [editado]. Morreu na hora. [editado] foi abatido com um lançador de granadas o pobre coitado. [editado] ficou comigo até eu apagar.

Homem 01: Pode identificar quem era a força hostil?

Homem 02: Não. Não era gente da força regular de [editado]. As armas não batiam com o equipamento padrão deles. Os insurgentes são numerosos, mas não tem treinamento e o equipamento é refugo roubado do exército regular. Enfim punks brincado de guerrilha.

Homem 01: Em sua opinião quem seria a força hostil?

Homem 02: Profissionais. Sabiam o quê fazer, quando fazer e como fazer. Tinham equipamento, treinamento e motivação.

Homem 01: Entendo.

[pausa]

Homem 01: Senhor [editado] pode me descrever como chegou até aqui?

Homem 02: A prisão?

Homem 01: Sim.

Homem 02: Resumindo a estória. Eu e [editado] fugimos da força hostil. Uma granada explodiu perto. Fiquei tonto demais e [editado] me ajudou a caminhar. Estava muito mal. Não conseguia responder ao fogo. Apaguei logo, antes de chegar ao ponto de extração. Acordei no dia seguinte no Hospital da ONU em [editado]. Me disseram que uma patrulha de pacificação foi verificar uma perturbação na fronteira e me achou. Dois dias depois me entregaram a um oficial diplomático. Na embaixada me prenderam. O resto você pode imaginar.

Homem 01: Entendo.

[pausa]

Homem 01: Poderia me informar o paradeiro do senhor [editado]? Ele não estava com o senhor o tempo todo?

Homem 02: Não. Ele ficou comigo até eu apagar. Desconheço seu paradeiro.

Homem 01: Pode me informar se [editado] chegou ao ponto de extração ou foi abatido?

Homem 02: Não. Não tenho como informar isto.

[pausa]

Homem 01:Senhor [editado] não deseja saber porque foi preso e está incomunicável desde que chegou a embaixada?

Homem 02: Gostaria de saber. Mas os guardas somente informam algo quando forem autorizados.

Homem 01: Temos uma vila cheia de cadáveres. Homens, mulheres e crianças. A contagem estava em 68 corpos quando entrei em sua cela.

Homem 02: Não fomos nós. Nenhum de nós disparou uma única bala contra aqueles civis!

Homem 01: Temos um posto de checagem na fronteira. 06 oficiais da guarda nacional [editado] mortos. Os corpos têm características de execução.

Homem 02: Repito. Não fomos nós. Havia uma força hostil que nos emboscou lá. Revidamos fogo nada mais. O que diabos está acontecendo aqui?

Homem 01: Seu associado, o Senhor [editado], está desaparecido. Sabia que existe uma conta para você e cada um de seus associados em [editado]. Quantia graúda. Na casa do milhão.

Homem 02: Não fizemos nada disso. Não matamos civis. Não executamos oficiais [editado]. Recebemos ordens e cumprimos. Aliás, quem diabos é você?

Homem 01: Assim como você também recebo ordens.

[som de disparos silenciados]

Homem 01: Sou o faxineiro. E vim limpar esta bagunça.

[fim]

Iniciado na noite de 15/11/09. Completado em 17/11/09. Sem correções. Pode ser expandido um dia.

Teresina, 17 de novembro de 2009.

Thiago "mdk137" Juliano.

Proibida a reprodução sem o consentimento do autor.

Permitida a citação desde que o auto seja devidamente creditado

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